segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Rios Amazônicos e diversificação


A história da formação da drenagem Amazônica é fundamental para entendermos melhor a origem da diversidade e dos padrões biogeográficos na região. Por isso, é muito interessante acompanhar os debates em curso na literatura "geológica" sobre o assunto. A maioria dos autores concorda que a drenagem Amazônica era direcionada para o oeste (Pacífico) e para o norte no passado e que o soerguimento dos Andes alterou esse cenário a partir do Mioceno, formando inicialmente o Lago Pebas e posteriormente invertendo a drenagem da Bacia para leste. Carina Hoorn foi uma das primeiras a propor uma cronologia pra essa história em seu artigo de 1995, com base em evidências de padrões de sedimentação, palinologia e moluscos fósseis. De acordo com os seus resultados a drenagem para leste teria se estabelecido definitivamente entre 11 e 8 milhões de anos atrás. Nesta revisão de 2006 ela escreve sobre esse estudo, suas implicações e debates. Por outro lado, alguns artigos recentes (Rossetti et al 2005, Campbell et al. 2006) têm questionado esta datação, e propõe que o estabelecimento da drenagem que vemos hoje foi um evento muito mais recente, datando do Quaternário (cerca de 2 milhões de anos atrás). Segundo esses autores, o processo de inversão da drenagem teria sido muito mais lento, e o Lago Pebas teria existido mesmo depois do Mioceno, originando o Lago Amazonas que perdurou até o Quaternário. Isso significa que a bacia sedimentar (regiões mais 'baixas' da Amazônia) teria sido ocupada por um sistema de lagos e rios meandrantes de pouca energia até "pouco" tempo atrás, e que ambientes de Terra Firme teriam se estabelecido nessas regiões apenas durante o Quaternário. Essas diferenças cronólogicas têm grande influência em como pensamos na biogeografia da Amazônia (ver Aleixo e Rossetti 2007).


Esse artigo de 2008 do pesquisador da UFPA, Afonso Nogueira, dá uma visão abrangente sobre o assunto, incluindo novos e interessantes resultados do grupo de pesquisa da UFPA que apóiam a idade mais recente para o estabelecimento da drenagem moderna. Parte desses resultados foi apresentada em um congresso da GSA (Geological Society of America) de 2006, com bastante divulgação. Por outro lado, em um artigo deste ano (Figueiredo et al 2009) outro grupo de autores (incluindo a Carina Hoorn) confirma com novos dados a origem Miocênica da drenagem para leste... Assim, não só a geologia pode nos ajudar a entender a diversificação como também o estudo dos organismos que ocupam a Amazônia hoje pode ajudar a entender melhor a história geológica, em um processo de construção do conhecimento que "anda nas duas direções".

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